Monitorização materno-fetal durante procedimento odontológico em portadora de cardiopatia valvar

O índice de doença cardíaca na gravidez varia entre 1% e 4% e constitui a 4ª causa de mortalidade materna e a principal causa de morte não-obstétrica. Em Odontologia, a escolha do anestésico local deve estar fundamentada na eficácia para a mãe e na ausência de riscos ao feto. Assim sendo, a lidocaína com adrenalina é a combinação apropriada para anestesia local odontológica em mulheres grávidas.

O objetivo foi analisar dados do feto, obtidos por meio de cardiotocografia (CTG) e de pressão arterial (PA), e dados eletrocardiográficos da gestante valvopata, obtidos pela monitorização ambulatorial de 24 horas, submetida à anestesia local com lidocaína 2% sem ou com adrenalina 1:100.000, durante procedimento odontológico restaurador.

Metodologia: reuniu 31 gestantes com idade entre 18 e 44 anos (média 28), com diagnóstico de doença na válvula do coração, que necessitavam de restauração em dentes inferiores. O tempo de gestação delas variou de 28 a 37 semanas (média 32,3), e o índice de massa corporal (IMC) variou de 20,6 a 41,4 (média de 27). Assim, 14 (45,2%) dessas pacientes foram aleatoriamente escolhidas para receber solução anestésica de lidocaína 2% sem vasoconstritor. Os autores não discriminaram marcas ou nomes comerciais. Os indivíduos formaram o grupo LSA, enquanto 17 (54,8%), para lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000, no grupo LCA. A anestesia do ligamento periodontal foi realizada com o sistema de injeção computadorizado. Fizeram o registro do eletrocardiograma (gravador de Holter) e da pressão arterial (MAPA), iniciados 1 a 2 horas antes do procedimento (período basal P0 – P0M e P0H). A vitalidade do feto foi avaliada com cardiotocógrafo a partir dos primeiros 20 minutos da paciente em cadeira odontológica (P0C). O momento do início da anestesia até o término do procedimento odontológico foi chamado de período do procedimento (P1), diferenciando P1H, P1M e P1C (que foi dividido em três intervalos). P2 correspondeu aos 20 minutos após o término do procedimento até a saída da paciente da cadeira, obtendo também P2H, P2M e P2C dos dados avaliados. Ao fim de 24 horas, obtiveram P24H do Holter e períodos de vigília (PVM) e sono (PSM) do MAPA, de acordo com horários relatados pelas pacientes nos respectivos diários de evento. Os aparelhos foram programados para captar informações, médias e identificar os valores de outras variáveis, dados que foram, posteriormente, analisados estatisticamente.

Discussão: os resultados do presente estudo demonstraram que a associação da adrenalina 1:100.000 à solução de lidocaína 2% não interferiu na pressão arterial (PA) e frequência cardíaca materna (FC), sobre frequência cardíaca fetal (FCF), contrações uterinas (CUM), movimentação corpórea fetal (MCF) ou teste de sobrecarga (TSS). As pacientes incluídas neste estudo eram normotensas e apresentaram valores de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica no período de vigília próximos aos verificados antes da gravidez, conforme dados retrospectivos de prontuário. Não houve alteração de PA, e a FC apresentou redução significativa durante o procedimento, quando comparada com os períodos basal, pós-procedimento e na média das 24 horas, tanto no grupo LSA como no LCA. A PA não teve alterações significativas, assim como FCF, CUM, MCF e TSS não se alteraram, mostrando que a lidocaína na presença ou não de epinefrina, da maneira usada, não induziu a variações desses parâmetros em gestantes portadoras de doença na válvula. A média da FC, nos dois grupos e nos períodos estudados, confirmou os resultados apresentados na literatura quanto ao aumento normal do número de batimentos por minuto em cerca de 20% próximo ao final da gravidez. A redução significativa da FC de 4 a 6 bpm durante o procedimento não é representativa no âmbito clínico, mas diverge da literatura que aponta aumento, por vezes significativo, pelo uso do anestésico contendo vasoconstritor ou pela realização de procedimentos odontológicos. Durante toda a monitorização materno-fetal, não houve registro de eventos clínicos.

 

Conclusões: o comportamento comparado dos grupos de gestantes portadoras de doença valvar reumática que receberam anestesia local com lidocaína 2% sem ou com adrenalina 1:100.000 evidenciou ausência de variação da pressão arterial sistólica e diastólica, redução da frequência cardíaca durante o procedimento, ausência de variação da frequência cardíaca nas demais comparações dos períodos e grupos e ausência de variação da frequência cardíaca fetal e contração uterina materna.

 

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