Estratégias para anestesiar dentes com pulpite irreversível

O desafio de anestesiar dentes com pulpite irreversível já é conhecido, principalmente quando se fala de molares inferiores, em que observamos com frequência a falha do bloqueio do nervo alveolar inferior (BNAI). Muitas estratégias já foram tentadas para resolver a questão e a ideia aqui é conversar sobre quais delas, de fato, apresentam eficácia na literatura científica para que você possa aplicar na rotina do seu consultório.

Nosso primeiro ponto de discussão é sobre a escolha do sal anestésico. Revisões sistemáticas como a de Kung et al. (2015) evidenciaram o anestésico local articaína como melhor opção, principalmente quando falamos de anestesia supraperiosteal por vestibular e/ou lingual associada ao BNAI, com uma probabilidade de alcançar sucesso até 3,55 vezes maior quando comparada à lidocaína. Khan et al. (2022) observaram que a articaína apresentou uma eficiência anestésica de 96,2% durante o preparo cavitário e 90,2% durante a instrumentação quando comparada com a lidocaína, que apresentou 86,2% e 76,2% de eficiência, respectivamente. O que se observa na literatura científica é que há evidência suficiente para escolher a articaína em BNAIs, infiltrações e técnicas suplementares em casos de pulpite irreversível sintomática (Nagendrababu et al., 2020). Isso ocorre, provavelmente, pela sua maior lipossolubilidade e maior capacidade de difusão tecidual quando comparada a outros anestésicos locais.

Uma outra estratégia interessante e com respaldo científico é a utilização de anti-inflamatórios esteroidais ou não-esteroidais como pré-medicação. Medicamentos como Dexametasona 4mg (Decadron®), Prednisolona 20mg (Predsim®), Ibuprofeno 600mg (Advil®) ou Cetorolaco 10mg (Toragesic®) podem ser utilizados 1h antes do procedimento no intuito de aumentar a eficiência anestésica. Hegde et al. (2023) evidenciaram uma taxa de sucesso de 65,2% com o uso de Cetorolaco e de 60,9% com Dexametasona. A possível resposta positiva da analgesia preemptiva (ou seja, da utilização de drogas analgésicas/anti-inflamatórias antes do procedimento odontológico) advém do fato da pulpite irreversível ser uma inflamação exacerbada do tecido pulpar, situação em que um anti-inflamatório pode ser útil.

Técnicas suplementares também são ótimas opções para utilizarmos em casos de bloqueio nervoso parcial, principalmente as técnicas intraligamentar e intrapulpar. Vale lembrar que essas apresentam um início de ação muito rápido, duração de efeito variável e costumam ter aplicação desconfortável ao paciente.

Um ponto que ainda se discute na literatura científica é a utilização de um volume maior de anestésico local na técnica de bloqueio nervoso. O estudo de Nagendrababu et al. (2020) sugeriu que aplicar dois tubetes para BNAI pode ser uma opção interessante para casos de pulpite irreversível.

Apesar de se tratar de um assunto muito discutido, nem sempre é possível alcançar 100% de eficiência anestésica e, por isso, seguimos na busca de diferentes opções para melhorar a experiência do profissional e do paciente. E você? Já utiliza alguma dessas estratégias para casos de pulpite irreversível?

 

Referências:

Gupta A, Wadhwa J, Aggarwal V, Mehta N, Abraham D, Aneja K, Singh A. Anesthetic efficacy of supplemental intraligamentary injection in human mandibular teeth with irreversible pulpitis: a systematic review and meta-analysis. J Dent Anesth Pain Med, 22(1):1-10, 2022.

Nagendrababu V, Abbott PV, Pulikkotil SJ, Veettil SK, Dummer PMH. Comparing the anaesthetic efficacy of 1.8 mL and 3.6 mL of anaesthetic solution for inferior alveolar nerve blocks for teeth with irreversible pulpitis: a systematic review and meta-analysis with trial sequential analysis. Endod J, 54(3):331-342, 2021.

Khan Q, Noor N, Anayar N, Khan TS, Ahmed M. Comparison of anaesthetic efficacy of Articaine and Lidocaine in nonsurgical endodontic treatment of permanent mandibular molars with symptomatic irreversible pulpitis. A randomized clinical trial. J Ayub Med Coll Abbottabad, 33(2):192-197, 2021.

Nguyen V, Chen YW, Johnson JD, Paranjpe A. In Vivo Evaluation of Effect of Preoperative Ibuprofen on Proinflammatory Mediators in Irreversible Pulpitis Cases. J Endod, 46(9):1210-1216, 2020.

Nagendrababu V, Duncan HF, Whitworth J, Nekoofar MH, Pulikkotil SJ, Veettil SK, Dummer PMH. Is articaine more effective than lidocaine in patients with irreversible pulpitis? An umbrella review. Int Endod J, 53(2):200-213, 2020.

Nagendrababu V, Pulikkotil SJ, Veetil SK, Teerawattanapong N, Setzer FC. Effect of Nonsteroidal Anti-inflammatory Drug as an Oral Premedication on the Anesthetic Success of Inferior Alveolar Nerve Block in Treatment of Irreversible Pulpitis: A Systematic Review. J Endod, 44(6):914-922.e2, 2018.

Kung J, McDonagh M, Sedgley CM. Does Articaine Provide an Advantage over Lidocaine in Patients with Symptomatic Irreversible Pulpitis? A Systematic Review and Meta-analysis. J Endod, 41(11):1784-94, 2015.

 

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A Prof. Dra. Andrezza Lauria é Doutora e Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. 

Instagram: @andrezzalauria.

 

 

 



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