Efeitos do uso da adrenalina na anestesia local odontológica em portador de coronariopatia

Neste estudo, o objetivo foi investigar o comportamento da pressão arterial sistêmica e da eletrocardiografia de 24 horas (sistema Holter) em pacientes com manifestação clínica de angina e diagnóstico de obstrução em uma ou mais artérias do coração, submetidos a procedimentos odontológicos restauradores, sob uso de agente anestésico com e sem vasoconstritor.

Metodologia: foram selecionados 62 pacientes, dos quais 51 (82,3%) eram do sexo masculino e 10 do sexo feminino, com faixa etária entre 39 e 80 anos (média de 58,7 anos). O índice de massa corporal (IMC) variou de 18,8 a 39,4 kg/m2. O diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica foi atribuído a 24 (38,7%) pacientes e foi constatada diabetes em 24 (38,7%) pacientes. Todos os pacientes mantiveram-se sob uso de seus medicamentos. Foram identificados os pacientes de acordo com lesão arterial existente. Do total, 30 foram alocados no grupo LCA para receber anestesia com solução de lidocaína a 2% com adrenalina 1:100.000, e 32 foram alocados no grupo LSA para receber lidocaína a 2% sem vasoconstritor. Os autores não discriminaram marcas ou nomes comerciais. No grupo LCA, 15 pacientes receberam um tubete (1,8 ml) de anestésico com vasoconstritor e 15 receberam dois tubetes (3,6 ml). No grupo LSA, 15 pacientes receberam um tubete (1,8 ml) de anestésico sem vasoconstritor e 17 receberam dois tubetes (3,6 ml). Todos os pacientes foram monitorados com eletrocardiograma e, quanto à pressão arterial, por 24 horas. Os pacientes receberam orientações para informar sobre dor e desconforto torácico, bem como o horário do evento em um diário. Os períodos de registro considerados foram “período basal” (1h antes da anestesia), “período do procedimento” (desde o início da anestesia até a saída da cadeira) e “período pós procedimento”. O procedimento realizado foi uma restauração dentária, utilizando a técnica de bloqueio do nervo alveolar inferior (BNAI). Ao final, os dados foram analisados estatisticamente.

Discussão: neste estudo, 87,1% dos pacientes faziam uso de betabloqueadores adrenérgicos e 54,8% usavam nitratos. Os resultados deste estudo demonstraram aumento significativo da pressão arterial sistólica e da pressão arterial diastólica nos dois grupos de pacientes, tanto no período basal como no período do procedimento, quando analisados separadamente. Não foi observada diferença de comportamento quando comparados os dois grupos (LCA e LSA) nos períodos basal, procedimento, vigília e sono. Ocorreu o mesmo quando os grupos foram comparados em relação à dose da solução anestésica recebida: 1,8 ml (um tubete) e 3,6 ml (dois tubetes). Assim, a elevação da pressão arterial sistêmica ocorreu independentemente da presença ou da ausência do vasoconstritor na solução anestésica. A possibilidade de interações adversas entre betabloqueadores adrenérgicos não-específicos tem sido sugerida, mas esse comportamento não ocorreu com os pacientes deste estudo, a maioria (54,8%) em uso de betabloqueadores adrenérgicos não-seletivos. A avaliação da frequência cardíaca não mostrou diferença entre os períodos basal e do procedimento nos dois grupos estudados, mesmo considerando a aplicação de um ou dois tubetes. A avaliação do segmento ST não mostrou sinais de isquemia miocárdica durante os períodos basal e procedimento. Episódios isquêmicos foram observados em 10 pacientes deste estudo pelo menos duas horas após o término do procedimento. No entanto, não houve critério para associar esses resultados ao uso do vasoconstritor, uma vez que seis dos pacientes que apresentaram isquemia pertenciam ao grupo LSA. Ao se analisar as informações do diário em que os pacientes faziam anotações, os dados obtidos não foram suficientes para correlacionar o horário das isquemias com os relatos dos pacientes e sugerem que os episódios isquêmicos registrados decorreram da própria doença do paciente. Este estudo evidenciou que o uso de 0,018 mg ou de 0,036 mg de adrenalina no anestésico local foi seguro e bem tolerado pelos pacientes. Mais observações nessa linha de pesquisa, com outros grupos específicos de portadores de cardiopatias, são desejáveis para a beneficência da relação dentista-médico-paciente.

Conclusões: não houve diferença de comportamento da pressão arterial com o uso de anestésico local com vasoconstritor em relação ao sem vasoconstritor. A frequência cardíaca não se alterou com o uso de anestésico com ou sem vasoconstritor. Não houve evidência de isquemia miocárdica e de indução de arritmia cardíaca quando da utilização dos dois tipos de anestésico durante o procedimento odontológico em pacientes sob controle farmacológico, a maioria em uso de betabloqueadores adrenérgicos.

 

 

 

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