Por que existem diferentes sais anestésicos?

Quando se fala em sais anestésicos, a pergunta do título desse artigo é bastante frequente e faz muito sentido. Isso se deve ao fato do Brasil ter mais de 15 soluções anestésicas com diferentes combinações de sais, vasoconstritores e concentrações. No entanto, muitas dessas soluções atualmente não tem mais indicação clínica.

Para compreender os motivos que levam a essa grande variedade é preciso levar em conta alguns fatores. Entre eles estão a evolução natural do conhecimento, a síntese de novas moléculas, o desenvolvimento da indústria nacional, os diferentes procedimentos realizados pelo dentista, assim como a variabilidade sistêmica dos pacientes. Ou seja, se queremos manter os melhores padrões de eficácia e segurança, devemos compreender alguns fatores. Por exemplo, que para pacientes e procedimentos diferentes, muitas vezes precisaremos de sais anestésicos diferentes, seguindo sempre aquilo que a literatura contemporânea nos mostra como mais apropriado.

Todos os anestésicos locais injetáveis utilizados em Odontologia pertencem ao grupo Amida. Além disso, 5 deles são disponíveis no Brasil em tubetes odontológicos para uso em nossa rotina clínica. São eles: Lidocaína, Prilocaína, Mepivacaína, Articaína e Bupivacaína. Exceto a Prilocaína, todos se associam Epinefrina. Esta é o vasoconstritor de primeira escolha para uso odontológico, e todos apresentam algum tipo de vantagem clínica diferente dos demais.

Anestésicos do Grupo Amida

A Lidocaína foi o primeiro destes anestésicos a ser disponibilizado para uso odontológico no Brasil. Trata-se do padrão ouro do grupo, ou seja, os demais anestésicos são sempre comparados a ela em seus padrões de eficácia e segurança. A utilização da Lidocaína é recomendada na concentração de 2% e para praticamente todas as situações clínicas. No entanto, há um grande diferencial: o anestésico de primeira escolha para o atendimento de gestantes.

Já a Prilocaína, tem um diferencial muito importante: É o único anestésico no Brasil associado a um vasoconstritor de origem hormonal, a felipressina. Por isso, será sempre a melhor opção quando a epinefrina for contra indicada, como por exemplo no atendimento de pacientes com pressão arterial acima de 16/10 mmHg ou nos alérgicos aos sulfitos. Sua concentração usual no Brasil é de 3%.

A Mepivacaína quando utilizada a 2% estará associada a um vasoconstritor, seus tempos de latência e duração podem ser comparados ao da lidocaína. Ou seja, é também muito bem indicada na rotina clínica odontológica. Seu diferencial é apresentar um menor grau de vasodilatação, o que a torna o anestésico ideal para utilização sem vasoconstritor, seja em odontopediatria ou no atendimento de pacientes com comprometimento sistêmico. Nesse caso a concentração de mepivacaína utilizada é de 3%. Vale relembrar que a utilização de anestésico local sem vasoconstritor
além de elevar a concentração sanguínea do anestésico, proporciona menor tempo de anestesia.

Anestésico de longa duração

Por outro lado, temos a Bupivacaína, utilizada a 0,5% é atualmente a única opção de anestésico de longa duração disponível em tubetes odontológicos. Sua potência até 4 vezes maior que a da lidocaína proporciona tempos de anestesia pulpar e de tecidos moles de até 4 e 16 horas respectivamente. Portanto, trata-se de uma boa opção especialmente para procedimentos cirúrgicos de longa duração.

Finalmente, a Articaína, anestésico mais recentemente introduzido no mercado odontológico brasileiro, é o sal atualmente mais utilizado e pesquisado em todo mundo. Em contrapartida, no Brasil ainda pouco mais de 15% dos dentistas utilizam esse anestésico. Possui um padrão de segurança semelhante ao da lidocaína, porém, sua maior lipossolubilidade associada a seu alto grau de ligação as proteínas plasmáticas proporciona vantagens clínicas significativas para esse anestésico.

Mais possibilidades de uso

A Articaína, utilizada na concentração de 4%, promove um tempo de anestesia até 50% maior que a lido, mepi ou prilocaína. Diante disso, amplia suas possibilidades de uso. Além do mais, podemos trabalhar tanto em maxila quanto em mandíbula utilizando a técnica infiltrativa. Isso, de certa forma, facilita o procedimento e é mais confortável para o paciente. Adicionalmente, temos taxas de sucesso superiores com esse anestésico tanto na anestesia do nervo alveolar inferior como nos dentes com pulpilte, sem dúvida os mais difíceis de serem anestesiados.

Baseado nas características e diferenciais apresentados, podemos afirmar que a Articaína é atualmente a melhor escolha para anestesia local em Odontologia. Porém não há dúvida de que precisaremos ter disponíveis em nosso consultório diferentes sais anestésicos. Isso deve ser feito para o atendimento dos diferentes desafios da nossa rotina clínica.



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