Os cuidados com a anestesia tópica

Além dos anestésicos locais injetáveis, os profissionais da Odontologia utilizam, como recurso para o controle da dor, os anestésicos tópicos. Apesar desses medicamentos possuírem mecanismos de ação semelhantes, a anestesia tópica tem efeito sobre os tecidos superficiais, enquanto a injetável age de maneira mais profunda.

Com essa principal diferença, compreende-se que os dois tipos devem ser usados em conjunto. Primeiramente, a aplicação do anestésico tópico, de preferência em gel, irá anestesiar de 2 a 3mm da mucosa. Em seguida, a posterior inserção da agulha, para deposição da solução selecionada, será mais confortável para o paciente.

Clinicamente, o uso da anestesia tópica também traz benefícios ao tratamento de pacientes que apresentam quadro de ansiedade – seja por fobias relacionadas às agulhas, à dor, aos dentistas etc., já que o fator psicológico tem grande participação na percepção da dor e, consequentemente, na colaboração do paciente com o tratamento. Por isso, é fundamental que o dentista minimize a sensação dolorosa que esses pacientes podem vir a sentir, com o objetivo final de motivá-los a continuar cuidando de sua saúde bucal.

O mesmo exemplo também se aplica às crianças. Os pacientes de Odontopediatria podem apresentar maior resistência às visitas ao dentista e, por isso, o controle do seu comportamento depende de técnicas especiais. Para tornar a experiência desse público com o tratamento mais positiva, o uso de anestésicos tópicos se mostra essencial na rotina clínica do cirurgião-dentista.

Além dessas indicações mais conhecidas, os anestésicos tópicos podem ser usados para moldagens e tomadas radiográficas. A contribuição nesses procedimentos é a redução da ânsia e do incômodo, queixas frequentes no dia a dia do consultório.

O anestésico tópico mais utilizado em Odontologia é a Benzocaína 20% (Benzotop – DFL), e cabe dizer que, como todo fármaco, é preciso ter algumas precauções com administração desse medicamento. Mesmo sendo de uso externo, o sal anestésico penetra no organismo até a corrente sanguínea, para ser biotransformado e eliminado do corpo. Portanto, os principais cuidados com esses produtos estão listados abaixo:

O uso é profissional

Os anestésicos tópicos de uso oral só podem ser adquiridos pelos dentistas, e isso significa que a responsabilidade do uso é do profissional. Sendo assim, os pacientes não devem ter acesso direto ao produto, pois há o risco de consumo arbitrário, podendo gerar intoxicação.

O modo de uso

O efeito da anestesia tópica depende da técnica de aplicação correta. O gel deve ser colocado sobre a mucosa seca e permanecer em contato por 2 minutos. Se for aplicado em local úmido ou removido antes do tempo recomendado, espera-se que o efeito não seja completamente alcançado.

A dose máxima deve ser respeitada

Pelas mesmas razões ditas acima, o anestésico tópico pode causar reações tóxicas se administrado de maneira excessiva. Cada fabricante determina em bula qual é a quantidade que se pode aplicar em cada paciente. No caso da Benzocaína 20%, a dose máxima é de 2g por paciente.

A anamnese é indispensável

Para todo tratamento, a anamnese irá guiar as decisões do clínico. Algumas perguntas presentes nesse documento podem trazer à tona o risco do paciente desenvolver, por exemplo, reações alérgicas a algum componente do produto ou propensão à metemoglobinemia (para anestésicos a base de benzocaína). Se o paciente relatar condições como essas, ou que se relacionem, o produto está contraindicado.

Departamento Clínico

Referências

1. DFL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S.A. (RJ – Brasil). Agência Nacional de Vigilância Sanitária (org.). BENZOTOP: gel de benzocaína. ed. Rio de Janeiro, 2005.
2. NASCIMENTO, Tatiana Souza do et al. Metemoglobinemia: do diagnóstico ao tratamento. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 58, n. 6, p. 651-664, 2008.
3. SINGH, Ravneet; AL KHALILI, Yasir. Benzocaine. StatPearls [Internet], 2020.
4. SO, Tsz-Yin; FARRINGTON, Elizabeth. Topical benzocaine-induced methemoglobinemia in the pediatric population. Journal of Pediatric Health Care, v. 22, n. 6, p. 335-339, 2008.



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