21 set Odontofobia: entenda mais sobre o medo de ir ao dentista
Você já ouviu falar sobre Odontofobia? Certamente você já escutou pacientes dizendo que não se sentem confortáveis em suas consultas odontológicas ou até amigos contando histórias sobre suas idas ao dentista. Ainda que muitos procedimentos odontológicos não causem dor, grande parte das pessoas sentem ansiedade e medo de ir ao consultório.
Mas o desconforto pode ser prejudicial se impede o paciente de fazer tratamentos e consultas de rotina. Para tentar mapear o problema, a British Dental Health Foundation entrevistou duas mil pessoas, em 2015, para identificar os pacientes com fobia. De acordo com eles, um em cada três pacientes sofre de ansiedade moderada e, cerca de um a cada oito, sofrem de ansiedade odontológica extrema.
As memórias de infância
Os pesquisadores também perguntaram sobre suas primeiras memórias de infância, com as respostas mais recorrentes incluindo “dor”, “o cheiro do gás e a máscara sobre o rosto” e “a visita foi dolorida, desconfortável e assustadora”. Mais de oito em cada dez respostas focaram em dor, medo, injeções, gás e perfuração.
A pesquisa “Um estudo epidemiológico sobre a fobia dental”, feita com 756 entrevistados do bairro Moema, na cidade de São Paulo, demonstrou que 52,4% dos entrevistados que afirmaram ter fobia de dentista disseram que seu medo era devido à possível dor causada pela broca odontológica, 19% relataram ter medo da anestesia por injeção e 28,6% afirmaram ter medo da broca odontológica e da anestesia em conjunto.
A maior prevalência de fobia dental do estudo foi em pessoas casadas, entre 25 e 34 anos de idade, com atividades exclusivamente domésticas e com baixa escolaridade – dados
semelhantes à pesquisa “Dental phobia in Iceland: an epidemiological postal survey”.
O que é fobia?
Fobia é um medo intenso e irracional e pode acometer os indivíduos de diversas maneiras. Pessoas podem ter medo de situações específicas, insetos, objetos, entre outros. No caso das pessoas com fobia de dentista, o nome dado é odontofobia. São aquelas que deixam de ir às consultas odontológicas por anos – e até décadas – e acabam convivendo com doenças periodontais, dor e até dentes fraturados ou com aparência ruim.
A fobia caminha junto à sensação de ansiedade, gerando mais estresse e liberação de vários neurotransmissores e hormônios. Os pacientes que sofrem com odontofobia apresentam
sintomas como a insônia antes da consulta, nervosismo antes e durante o atendimento, vontade de chorar ou podem até se sentir doentes fisicamente.
Por que a odontofobia pode ser prejudicial?
Ainda de acordo com a pesquisa “Um estudo epidemológico sobre a fobia dental”, 71,4% das pessoas com odontofobia foram apenas uma vez ao dentista na vida, 19% foram duas vezes, 4,8% foram três vezes e 4,8% foram apenas quatro vezes ao dentista.
Por isso, a não recorrência de visitas ao consultório odontológico faz com que essas pessoas estejam mais sujeitas à doença periodontal e perda precoce dentária. Isso porque problemas simples se agravam com o tempo e, muitas vezes, a única solução é a extração dentária. E ainda que existam implantes dentários e próteses fixas, a prevenção é a melhor forma de manter a saúde bucal em dia. As pessoas que sofrem com odontofobia também podem ter problemas de saúde e expectativa de vida menor, já que a saúde bucal precária tem relação com algumas condições que apresentam risco de morte, como doenças cardíacas e infecções pulmonares.
Além disso, segundo o estudo “General and oral heath problems among adults with focus on dentally anxious individuals”, esse medo intenso impacta em aspectos psicológicos e sociais da
vida dos pacientes, como sentimento de vergonha, autoconfiança prejudicada e isolamento social.
Por que o medo acontece?
O artigo “O tratamento odontológico como gerador de ansiedade” traz alguns estudos que investigam as origens da ansiedade e do medo. Milgrom, Mancl, King e Weinstein (1995), por exemplo, aplicaram um questionário a 895 crianças de 05 a 11 anos de idade. Em seguida, o instrumento em escala de Likert, previa cinco diferentes respostas, que variavam de “nenhum medo” até “muito medo”. Entre as situações que evocaram os maiores escores de medo estavam aspectos técnicos relacionados ao tratamento, tais como “aplicação de injeção” e “uso da broca”.
Além disso, um estudo de Townend, Dimigen e Fund (2000), com 60 crianças (sendo 31 classificadas como temerosas), mostra a relação entre medo e experiências precoces desagradáveis. Logo depois, foram citados casos como tratamento invasivo (como exodontia) realizado na primeira visita da criança ao odontopediatra.
As crianças com maior número de dentes cariados também tinham mais medo do que aquelas sem presença das cáries, mostrando uma relação entre medo e comportamentos de esquiva. De acordo com os autores, muitos cirurgiões-dentistas evitam o uso de anestesia e outros métodos de controle de dor em crianças para poupá-las de procedimentos invasivos, além de não empregarem estratégicas psicológicas de manejo de comportamento, por não conhecer suficientemente o tema.
Experiências agradáveis
Com exemplos como esse, segundo o artigo, para que a criança não desenvolva medo do tratamento odontológico, é necessário oferecer experiências odontológicas agradáveis. Mas, ainda que isso seja possível em todos os momentos da infância, a odontofobia pode acontecer também em qualquer fase da vida adulta, quando o indivíduo se submete a um procedimento aversivo sem o amparo necessário.
Igualmente, é importante frisar que vários estudos têm apontado uma relação direta entre dor e ansiedade no tratamento odontológico. Além disso, a avaliação desse medo não deve ser negligenciada na estratégia de controle de dor para se conseguir um manejo adequado desses pacientes.
Referências:
1. D’El Rey, Gustavo J. Fonseca; Pacini, Carla Alessandra. Um Estudo Epidemiológico sobre a Fobia Dental. Universidade Federal de Minas Gerais.
2. Hakeberg, Agnus; Wide, Ulla. General and oral health problems amoung adults with focus on dentally anxyous individuals. International Dental Journal.
3. Possobon, Rosana de Fátima; Carrascoza, Karina Camillo; Moraes, Antonio Bento Alves; Costa Jr, Áderson Luiz. O tratamento odontológico como gerador de ansiedade.