04 jun O consumo de anestésicos locais injetáveis no Brasil e no mundo
Quais são as diferenças encontradas entre o mercado de anestésicos locais brasileiro e internacional
O Brasil, segundo dados do CFO – 2010, é o país com o maior número de dentistas do planeta e, consequentemente, há um alto consumo de anestésicos locais injetáveis. Mesmo sendo um levantamento feito há mais de 10 anos, outras pesquisas oficiais do conselho revelaram que esse percentual só cresce e, em 2018, houve um aumento acima de 40%.
Sobretudo, esse comparativo nos leva a enxergar a importância no que diz respeito aos produtos odontológicos, que o nosso padrão de consumo expressa mundialmente. Apesar da Odontologia brasileira ser uma referência mundial, normalmente acompanhamos as tendências de consumo internacionais, bem como os trabalhos científicos publicados.
Em primeiro lugar, no mercado de produtos odontológicos, há uma evolução acontecendo de maneira constante e muitos produtos são lançados para simplificar o trabalho do profissional, trazer mais segurança nos tratamentos e oferecer melhor qualidade e durabilidade nos procedimentos. Quando o assunto é anestesia local, por exemplo, a tendência é o uso de soluções com menor toxicidade, maior segurança e efetividade anestésica.
A evolução dos anestésicos
Um exemplo dessa evolução dos anestésicos é a Articaína que, quando comparada a Lidocaína (padrão-ouro), apresenta mecanismo de ação idêntico, mas é 50% mais potente. A Articaína também é um anestésico que pode ser empregado em procedimentos mais duradouros e complexos por formar ligações protéicas mais fortes, além de se difundir mais rapidamente e profundamente entre os diferentes tecidos e ter uma meia vida mais curta (30 minutos).
Acima de tudo, internacionalmente, a Articaína é bastante presente na rotina clínica dos dentistas. Em alguns países, principalmente europeus, como na Alemanha, onde ela foi empregada pela primeira vez, a Articaína é o sal mais utilizado pelos cirurgiões dentistas. Nos EUA, quando o assunto é anestesia local, a Lidocaína permanece como a preferência, como aqui no Brasil, porém em segundo lugar está ela, a Articaína, que fora introduzida no mercado americano apenas no ano 2000.
O mito que relaciona Articaína e parestesia
Primeiramente, falando cientificamente, a Articaína é tão segura quanto à Lidocaína, mas ainda existem alguns mitos entre os dentistas brasileiros sobre essa substância, como a parestesia, fato que nenhum estudo clínico conseguiu concluir até o momento que há uma relação direta com essa substância. A princípio, em uma revisão sistemática e meta- análise publicada em 2021, Nogueira et al sugerem que o uso da articaína não aumenta o risco de hipostesia em comparação com outros anestésicos locais e quando presente, esta complicação é temporária.
A disponibilidade no mercado internacional da Articaína 4% com adrenalina em duas concentrações diferentes, 1:100.000 e 1:200.000 pode ajudar a justificar seu amplo uso pelos profissionais. Atualmente no Brasil temos apenas a Articaína 4% com epinefrina 1:100.000.
Tubetes de vidro são preferidos
Antes de mais nada, quanto às apresentações, de maneira geral, existem outras diferenças no consumo dos anestésicos. Da mesma forma, no exterior, encontramos tubetes de vidro em sua grande maioria e pode haver tubetes com mais volume, até 2,2ml de solução. Em contrapartida, no Brasil, o consumo de tubetes odontológicos de plástico ainda é alto, indo na contramão da qualidade já comprovada pela embalagem de vidro e seus diversos benefícios como conforto na aplicação, melhor visualização do refluxo sanguíneo, ausência de metilparabeno, menor incidência de vazamento, material inerte e impermeável, melhor conservação da solução, entre outros.
Desde já, ainda no cenário nacional, a utilização de lidocaína 3% e do vasoconstritor norepinefrina 1:50.000 parece ser um retrocesso pois apresenta um padrão de segurança inferior para o paciente. Não há justificativa científica para que ainda se use essa concentração de lidocaína e a noradrenalina como vasoconstritor atualmente. Ou seja, a escolha da epinefrina como vasoconstritor é segura e muito bem estudada, sendo inclusive recomendada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia para pacientes hipertensos ou cardiopatas compensados.
Melhores resultados
Sobretudo, indo um pouco além, muitos países contam com ferramentas mais avançadas para a aplicação dos anestésicos. Ou seja, nem todos usam as seringas carpules metálicas convencionais e alguns sistemas de seringas não exigem agulhas. Portanto, é valido citar que a existência dos sistemas de injeção controlados por computador, que controla a pressão e a quantidade de produto injetado, têm melhorado o resultado e a experiência de milhões de pacientes ao longo da última década.
A princípio, conhecendo um pouco mais do que está à disposição dos cirurgiões-dentistas em outros países, espera-se que o dentista brasileiro desperte mais interesse pelas novidades do mercado e possa, quem sabe muito em breve, usufruir mais do que há de melhor em opções anestésicas no mundo.
Departamento Clínico DFL
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Referências:
1- Malamed, Stanley F. Manual de Anestesia Local, 7º edição, 2019.
2- Andrade, Eduardo Dias de. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia, 3ª edição, 2014.
3- Silva, et al. Methylparaben concentration in commercial Brazilian local anesthetics solutions. Journal of Applied Oral Science, v. 20, n. 4, p. 444-448, 2012.
4- Elad, Sharon et al. The cardiovascular effect of local anesthesia with articaine plus 1:200,000 adrenalin versus lidocaine plus 1:100,000 adrenalin in medically compromised cardiac patients: a prospective, randomized, double blinded study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod; v. 105, n. 6, p.725-730, 2008.
5- Nogueira, et al. Does the use of Articaine increase the risk of hypesthesia in lower third molar surgery? A systematic review and meta-analysis. J Oral Maxillofac Surg; v. 79, n. 1, p. 64-74, 2021.
6- https://website.cfo.org.br/
7- https://monitormercantil.com.br/brasil-e-o-pais-com-mais-dentistas-no-mundo/