existe relação entre ansiedade e dor durante a anestesia?

Existe relação entre ansiedade e dor durante a anestesia?

Tratamentos odontológicos:
existe relação entre ansiedade e dor durante a anestesia?

Para muitas pessoas, o tratamento odontológico é sinônimo de medo e ansiedade, especialmente os que envolvem anestesia local, que pode fazer com que alguns pacientes evitem ir ao dentista (WOOLGROVE et al., 1986). Porém, o que muitos não sabem é que o estresse é um dos fatores que podem agravar a percepção da dor durante os procedimentos dentários mais temidos. 

Caracterizada como um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, ocasionado por uma antecipação de perigo (CASTILLO, RECONDO, ASBAHR, & MANFRO, 2000; DO NASCIMENTO, DA SILVA ARAÚJO, GUSMÃO, & CIMÕES, 2011; HEYMAN et al., 2016), a ansiedade pode atingir a homens e mulheres, em todo o mundo, inclusive na hora de ir ao dentista. Para desencadear essa reação, muitos são os motivos ou “gatilhos” apontados, dentre eles estão os fatores físicos, como o desconforto e a sensação dolorosa, que podem ser percebidos durante determinados procedimentos (POHJOLA, REKOLA, KUNTTU, & VIRTANEN, 2016), e os fatores psicológicos, que podem fazer com que o paciente superestime a dor ao reviver a memória de eventos negativos do passado. 

Cientificamente, a relação entre a ansiedade e a percepção da dor durante os tratamentos odontológicos já é bem estabelecida na literatura. Nela, um ciclo vicioso é observado: o estresse gerado pela ansiedade do paciente reduz a tolerância dele à dor, que, por sua vez, eleva seu nível de estresse (MEYER, 1987; PEREIRA et al., 1995; BRAND et al., 1996; ARORA, 1999).

Figura 1 – Ciclo da ansiedade relacionada ao tratamento odontológico.

Especificamente quando o assunto é a aplicação da anestesia, a falha na técnica anestésica aparece como um dos principais motivos para o surgimento de traumas relacionados ao atendimento odontológico (de Jongh et al., 1995), mas, para muitos pacientes, o ato anestésico por si só pode ser o suficiente para desencadear a ansiedade e o medo.

Assim, também é observado que os pacientes que possuem o chamado “medo de dentista” comumente evitam agendar visitas regulares ao consultório, buscando um profissional somente em casos de urgência e com a demanda por procedimentos mais invasivos. Logo, em estudos, essa fobia está frequentemente associada à saúde bucal deficiente, que tende a reforçar as indesejadas experiências com a dor (APPUKUTTAN, 2016; DOGANER et al., 2017; MURAD, INGLE, & ASSERY, 2020).

Nesse contexto, o papel do dentista deve ser o de acolher, de informar e de acalmar o paciente. Por isso, é muito importante que o profissional seja claro em relação ao procedimento que irá realizar para que as expectativas, de ambos os envolvidos, estejam alinhadas no momento do tratamento. A utilização de uma boa técnica, que pode incluir a aplicação de recursos adicionais para o controle da ansiedade, como farmacológicos e não-farmacológicos, e produtos bem-selecionados também elevam as chances no sucesso dos procedimentos odontológicos, da manutenção do silêncio operatório, do aumento da confiança no Cirurgião-Dentista e da consequente fidelização do paciente (APPUKUTTAN, 2016; FUX-NOY et al., 2019; RANDALL, SHULMAN, CROUT, & MCNEIL, 2014).

REFERÊNCIAS:

WOOLGROVE J, Cumberbatch G. Dental anxiety and regularity of dental attendance. J Dent. 1986; 14:209-13.

CASTILLO, A. R. G., Recondo, R., Asbahr, F. R., & Manfro, G. G. (2000). Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(suppl 2), 20–23.

DO NASCIMENTO, D. L., da Silva Araújo, A. C., Gusmão, E. S., & Cimões, R. (2011). Anxiety and fear of dental treatment among users of public health services. Oral health & preventive dentistry, 9(4), 329–337.

HEYMAN, R. E., Slep, A. M. S., White-Ajmani, M., Bulling, L., Zickgraf, H. F., Franklin, M. E., & Wolff, M. S. (2016). Dental fear and avoidance in treatment seekers at a large, urban dental clinic. Oral health & preventive dentistry, 14(4), 315–320. 

POHJOLA, V., Rekola, A., Kunttu, K., & Virtanen, J. I. (2016). Association between dental fear and oral health habits and treatment need among University students in Finland: a national study. BMC oral health, 16, 26. 

MEYER, FU. Haemodynamic changes under emotional stress following a minor surgical procedure under local anaesthesia. Int J Oral Maxillofac Surg. 1987; 16:688- 94.

PEREIRA, LHMC, Ramos DLP, Crosato E. Ansiedade e dor em odontologia – enfoque psicofisiopatológico. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1995;49:285-90. 

BRAND, HS, Abraham-Inpijn L. Cardiovascular responses induced by dental treatment. Eur J Oral Sci. 1996;104:245-52. 

ARORA, R. Influence of pain-free dentistry and convenience of dental office on the choice of a dental practitioner: an experimental investigation. Health Mark Q. 1999; 16:43-54.

DE JONGH, A., Muris, P., Ter Horst, G. & Duyx, P. M. A. (1995). Acquisition and maintaince of dental anxiety: The role of conditioning experiences and cognitive factors. Behaviour Research and Therapy,33(2), 205-210.

APPUKUTTAN, D. P. (2016). Strategies to manage patients with dental anxiety and dental phobia: literature review. Clinical, cosmetic and investigational dentistry, 8, 35–50.

DOGANER, Y. C., Aydogan, U., Yesil, H. U., Rohrer, J. E., Williams, M. D., & Agerter, D. C. (2017). Does the trait anxiety affect the dental fear? Brazilian oral research, 31, e36. 10.1590/1807-3107BOR-2017.vol31.0036

MURAD, M. H., Ingle, N. A., & Assery, M. K. (2020). Evaluating factors associated with fear and anxiety to dental treatment-A systematic review. Journal of family medicine and primary care, 9(9), 4530–4535. 

RANDALL, C. L., Shulman, G. P., Crout, R. J., & McNeil, D. W. (2014). Gagging and its associations with dental care-related fear, fear of pain and beliefs about treatment. Journal of the American Dental Association (1939), 145(5), 452–458. 



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