Anestesia odontológica em crianças

Anestesia odontológica em crianças: dicas para um procedimento seguro e sem traumas

Para algumas famílias, a visita ao consultório odontológico pode ser conturbada, especialmente quando o paciente a ser tratado é uma criança. Isso acontece porque intervenções odontológicas, principalmente em pacientes pediátricos, muitas vezes são acompanhadas de medo e ansiedade (DUKER et al., 2022). Por isso, é importante que o Dentista conduza de forma tranquila o atendimento, especialmente quando o procedimento envolve a anestesia odontológica. 

Um atendimento odontopediátrico de sucesso começa por uma abordagem personalizada, de acordo com a faixa etária da criança e entendendo o seu processo de desenvolvimento. Afinal, cada fase apresenta características próprias e determinado nível de entendimento sobre os procedimentos odontológicos (CORRÊA et al., 2013). Nesse contexto, é necessário que o profissional estabeleça uma relação de confiança com o paciente e sua família, o que facilitará um comportamento cooperativo por parte da criança. 

O primeiro passo é fortalecer o vínculo com os responsáveis, estimulando o acompanhamento periódico em consultas educativas e preventivas. Dessa forma, a criança não associará as visitas ao Dentista a momentos de dor e ansiedade. No consultório, o profissional pode antecipar dúvidas e pensamentos negativos e explicar o procedimento com uma linguagem simples, amistosa e educativa (CORRÊA et al., 2013). Nesse momento de explicação, algumas técnicas podem ser utilizadas, como: mudar a atenção da criança com músicas, histórias, filmes; controle da voz, evitando um tom tenso ou rígido; palavras de conforto para o paciente e demonstração do procedimento, fazendo com que a criança se sinta envolvida no atendimento e se distraia da dor. 

A anestesia local na Odontopediatria é indicada para todo e qualquer procedimento clínico que possa provocar dor, com exceção de pacientes alérgicos aos diferentes anestésicos, pacientes com necessidades especiais que não possuam condição de colaborar com o procedimento, doenças cardíacas graves ou anomalias que impeçam a abertura bucal adequada (DUQUE, 2013). Quanto à escolha do anestésico ideal, o Dentista deve avaliar a duração do procedimento, necessidade de controle do sangramento durante o tratamento e o histórico médico do paciente. Atualmente a Lidocaína associada a Epinefrina 1:100.000 parece ser a solução anestésica mais indicada em Odontopediatria. Uma opção interessante e com tempo anestésico equivalente é a Articaína com Epinefrina 1:200.000. Esta solução anestésica permite a utilização de técnica infiltrativa de maneira efetiva na mandíbula e diminuição da sensibilidade dolorosa durante a anestesia no palato após a anestesia infiltrativa vestibular. Além disso, a utilização de anestésico com Epinefrina mais diluída (1:200.000) torna o procedimento anestésico mais eficiente e seguro em relação a utilização da Epinefrina 1:100.000 ou de um anestésico sem vasoconstritor. Finalmente, no caso do paciente ter uma contra indicação absoluta à utilização da Epinefrina, o anestésico a ser utilizado deverá ser a Mepivacaína 3% sem vasoconstritor. O conhecimento e orientação aos pais a respeito do tempo anestésico é importante na Odontopediatria para evitar o trauma da mucosa do lábio e língua após o procedimento. Por este motivo anestésicos de longa duração deverão ser evitados em crianças.

Por fim, ao realizar um procedimento odontológico que envolva a necessidade de anestesia, é importante que seja realizado um preparo psicológico prévio da criança e dos seus responsáveis. Palavras como ‘’dor’’, “agulha” e “picada” devem ser evitadas para não causar ansiedade e a criança deve estar ciente de sensações diferentes que podem acontecer, como formigamento, mas que serão temporárias (TOLEDO, 2014). Alguns cuidados técnicos também devem ser aplicados para reduzir o medo do paciente, como o preparo prévio da bandeja (para que a criança não perceba a agulha e os instrumentos que serão utilizado), a utilização de agulha curta e a estabilização da cabeça, evitando reflexos durante a aplicação da anestesia. 

Apesar de algumas técnicas psicológicas e clínicas para um procedimento seguro, o Dentista deve entender que cada paciente é único e possui comportamentos diferentes. Por isso, a sensibilidade e a conversa na hora do atendimento são essenciais para entender os medos da criança e garantir uma anestesia sem traumas. 

Referências: 

DUKER, L. S., Grager, M., Giddin, W., Hikita, N., Polido, J. C. (2022). The relationship between dental fear and anxiety, general anxiety/fear, sensory overresponsivity,

and oral health behaviors and outcomes: a conceptual model. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18 (19). 

CORRÊA, M.S.N.P.; COSTA, L.R.R.S.; COLARES, V. Medo Odontológico. In: CORREA, M. S.N.P. Conduta clínica e psicológica na Odontopediatria. São Paulo: Santos, 2013. p.123-130.

DUQUE, C., et al. Odontopediatria: uma visão contemporânea. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2013.

TOLEDO, O. A. Odontopediatria: fundamentos para a prática clínica. 3. ed. São Paulo: Editorial Premier, 2014.



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