12 jan Anestesia em gestantes: quais são as dúvidas?
Anestesia em gestantes: quais são as dúvidas?
No tratamento odontológico de pacientes gestantes, uma das fases mais especiais da vida de uma mulher, questões sobre os procedimentos odontológicos podem surgir. Algumas delas se relacionam à anestesia local, como, por exemplo, se é seguro para a mãe e para o feto e quais cuidados o profissional deve tomar para realizá-la.
Durante esse período, a mulher passa por diversas transformações no organismo, à níveis psicológicos, físicos e mentais, e a saúde bucal também deve ser observada, porém, acaba sendo negligenciada por medo e/ou por má informação. Infelizmente, muitos mitos podem interferir nesse atendimento, tanto nas crenças do dentista quanto nas crenças dos futuros pais. (VASCONCELLOS et al., 2012).
Principalmente no primeiro trimestre, as regurgitações e vômitos contribuem para a erosão do esmalte dentário, aumentando o risco de cáries. Quando esse quadro se associa à maior ingestão de carboidratos e ao descuido com a higiene bucal, o aparecimento de lesões cariosas é esperado (BASTIANI et al., 2010; VASCONCELLOS et al., 2012; EBRAHIM et al., 2014).
Adicionalmente, durante esses meses, o sangramento das gengivas pode se tornar frequente, como consequência de doenças periodontais. Por elevação do nível de estrógeno e progesterona, hormônios sexuais, ocorre aumento da susceptibilidade à resposta inflamatória, resultando, dentre os diagnósticos mais comuns, em casos de gengivite gravídica e de granuloma piogênico (EBRAHIM et al., 2014).
Ao contrário do que muitos acreditam, para tratar essas condições, a anestesia local em gestantes pode e deve ser utilizada, sendo uma etapa totalmente segura do atendimento. Após a investigação de alergia e de outras questões de saúde, através da anamnese, o profissional deve executar a técnica anestésica corretamente, evitando a injeção intravascular acidental, e fazer o controle da quantidade de droga a ser administrada, simbolizando cuidados comuns a todos os grupos de pacientes (VASCONCELLOS et al., 2012; MALAMED, 2019).
Consensualmente, a epinefrina é o vasoconstritor ideal, e a felipressina é contraindicada às gravidas. Deve-se considerar que o uso de vasoconstritores aumenta a duração do efeito anestésico, o que reduz o volume do medicamento a ser aplicado e, consequentemente, reduz o risco de efeitos tóxicos associados (CARVALHO, 1994; VASCONCELLOS et al., 2012; MALAMED, 2019).
Quanto à transmissão dos anestésicos locais ao feto, isso pode variar de acordo com as condições fetais e com o sal a ser administrado. Já a severidade dos efeitos é determinada pela quantidade de anestésico que atravessa a placenta. Sendo assim, junto à dose, o anestésico selecionado pode ser mais ou menos seguro para esses casos (LEE e SHIN, 2017).
Segundo a FDA – Food and Drugs Administration, a lidocaína é o sal que possui melhor classificação de segurança, Categoria B, e, por isso, oferece menor risco à gestação. Na dose máxima de 4,4 mg/Kg, recomenda-se lidocaína associada à epinefrina como solução de primeira escolha nesses casos (VASCONCELLOS et al., 2012; LEE e SHIN, 2017).
Conclusão
Visto que, durante a gravidez, é natural que ocorram alterações psicológicas nas futuras mães, é importante que o profissional converse com a paciente, explicando as implicações da aplicação do anestésico tanto para ela quanto para o seu neném, além de esclarecer todas as suas dúvidas, de forma que ela se sinta segura com o procedimento ao qual será submetida. O uso de anestésico tem efeito direto no estresse associado ao tratamento odontológico, então o conforto da paciente sempre deve ser considerado como um fator que também impacta na saúde fetal.
Deve-se fazer a junção entre expertise do Dentista à escolha da solução anestésica para o sucesso do procedimento. Assim, tanto a mãe quanto o bebê ficarão seguros para a realização de tratamentos dentários necessários.
Referências:
CARVALHO, Jose Carlos Almeida. Farmacologia dos anestésicos locais. Brazilian Journal of Anesthesiology, v. 44, n. 1, p. 75-82, 2020.
EBRAHIM, Zahra Fernandes et al. TRATAMENTO ODONTOLÓGICO EM GESTANTES DENTAL TREATMENT DURING PREGNANCY. Science, v. 5, n. 1, p. 32-44, 2014.
LEE, Ji Min; SHIN, Teo Jeon. Use of local anesthetics for dental treatment during pregnancy; safety for parturient. Journal of dental anesthesia and pain medicine, v. 17, n. 2, p. 81-90, 2017.
MALAMED, Stanley F. Manual de anestesia local. 7ª ed., Rio de Janeiro, Elsevier, 2019.
VASCONCELOS, Rodrigo Gadelha et al. Dental care in pregnant patients: how to proceed with safety. Revista Brasileira de Odontologia, v. 69, n. 1, p. 120-224, 2012.