28 jun A Anestesia odontológica pode causar alergia?
Existem pessoas que possuem alergia a anestesia em geral. No entanto, a anestesia local é um procedimento recorrente no dia a dia dos cirurgiões-dentistas. E uma das dúvidas comuns entre pacientes e profissionais é: a anestesia odontológica também pode causar alergia?
Para entender mais sobre isso, confira nossa matéria na íntegra.
Alergia é uma reação rara
Primeiramente, todos os anestésicos locais utilizados em Odontologia na forma de solução injetável pertencem ao grupo das Amidas. Porém, no passado existiam também anestésicos locais injetáveis do grupo Éster, mas que saíram do mercado por possuírem um maior potencial de causar alergia nos pacientes, assim como menor duração anestésica. Ao mesmo tempo, o único anestésico local do grupo Éster utilizado em Odontologia é a Benzocaína, porém somente para anestesia tópica em mucosa. Mesmo considerando apenas seu uso tópico, a benzocaína pode gerar reações de hipersensibilidade.
Com o uso dos anestésicos locais do tipo Amida, as reações alérgicas são consideradas extremamente raras. A incidência de reações alérgicas aos anestésicos locais é relatada como
sendo < 1%.
Outras substâncias presentes
Quando a reação de hipersensibilidade acontece, é normalmente, devido à presença de outras substâncias que compõem a fórmula da solução anestésica. Sendo assim, uma das substâncias que pode desencadear reação alérgica é o metilparabeno, conservante comumente encontrado em tubetes de plásticos, infelizmente ainda muito utilizados no Brasil, porém sem nenhuma vantagem clínica em relação aos tubetes de vidro, que oferecem mais eficiência, segurança e que proporcionam maior conforto anestésico para os pacientes.
Além disso, a presença de sulfitos, encontrados nos tubetes com vasoconstritores adrenérgicos, também podem desencadear alergias. Sobretudo, uma alternativa aos pacientes alérgicos a sulfitos é o uso da prilocaína com felipressina.
Dessa forma, alergia a anestesia pode ser imediata, que se desenvolve em segundos a horas após a exposição, ou tardia, se desenvolvendo em horas a dias após o contato com o antígeno.
Do mesmo modo, a alergia também pode ser de intensidade leve, moderada e grave, com sinais e sintomas combinados ou isolados, como: urticária (coceira), edema (inchaço dos lábios, olhos, nariz), dificuldade em respirar, aumento dos batimentos cardíacos, dor abdominal, náuseas e vômitos. Portanto, quanto mais rapidamente aparecem sinais e sintomas, mais intensa é a reação. A anafilaxia generalizada pode evoluir para um edema na glote e ser letal se não houver um atendimento rápido.
Conhecimento é a palavra chave
Embora a mínima possibilidade de alergia exista, alguns sintomas podem ser confundidos com reações adversas a vasoconstritores, síncope vasovagal ou toxicidade por sobredosagem. Sendo assim, é essencial ter bom conhecimento sobre as drogas que utilizamos diariamente e sobre o histórico do paciente para ter o diagnóstico correto e selecionar corretamente a solução anestésica para cada paciente.
Além disso, é importante frisar que mesmo pacientes que já receberam anestesia local sem problemas, podem desencadear um processo alérgico algum dia.
Existem testes dérmicos, intradérmicos/subcutâneos que podem ser realizados para verificar a alergia verdadeira às soluções anestésicas. No entanto, existem poucas indicações para isso, como pacientes com histórico de hipersensibilidade aos sais anestésicos ou hipersensibilidade múltipla.
Dicas
- Primeiramente, pergunte aos seus pacientes se já tiveram alergias após o consumo de frutos do mar, alimentos em conserva, kiwi, banana, antibióticos ou anti-inflamatórios, ou após o uso de pomadas, cosméticos, filtros solares, ou ainda se é asmático. Assim, indicará uma maior chance desenvolver alergias a conservantes ou antioxidantes presentes na solução anestésica.
- Da mesma forma, para reações leves, a administração de anti-histamínicos e corticóides deve ser considerada.
- Em casos de reação alérgica severa, interrompa imediatamente o atendimento clínico e chame o serviço médico de urgência de sua cidade. Em seguida, coloque o paciente deitado e o monitore até a chegada do serviço médico.
- Faça um treinamento de Suporte Básico de Vida e Ressuscitação Cardiopulmonar e mantenha-se atualizado.
- Tenha um kit de emergência em seu consultório e esteja apto a utilizá-lo quando necessário.
Departamento Clínico DFL
Referências:
1. Malamed, Stanley F., Manual de Anestesia Local, 7º edição, 2019.
2. Babak Bina et al. True Allergy to Amide Local Anesthetics: A Review and Case Presentation. Anesth Prog, 65:119–123, 2018.
3. İ. Yilmaz, S.K. Özdemir, Ö. Aydin, G.E. Çelik. Local anesthetics allergy: who should be tested? Eur Ann Allergy Clin Immunol, Vol 50, N 2, 66-71, 2018.
4. Fabiana Furci et al. Adverse reaction to local anaesthetics: Is it always allergy? Oral Diseases, 00:1–3, 2020.
5. Instituto IPPO. https://www.institutoippo.com.br/